No final do ano passado, Juliana Magalhães, de 22
anos, e Larissa Santos, de 28 anos, deixaram seus cargos em uma agência de
viagens de turismo corporativo para mudar de área e investir em seu sonho, uma
assessoria de casamentos. Mas, a virada na carreira não foi tão fácil assim,
elas pesquisaram o mercado, se especializaram e ainda ficaram no antigo emprego
por 8 meses até a mudança de área se concretizar. "Estávamos em um emprego com bom salário e todos
os benefícios que um funcionário pode querer. Porém, era com os casamentos que
nos sentíamos completas", diz Juliana. “As sextas-feiras eram nossos dias
favoritos porque sabíamos que no dia seguinte faríamos aquilo que tanto nos
motivava”, completa Larissa. Hoje, elas organizam cerca de três casamentos por
mês e estão com a agenda cheia para setembro e outubro, que se tornaram os
preferidos das noivas.
Nem todo mundo tem a coragem de mudar de carreira,
como Juliana e Larissa, mas muita gente tem vontade de "chutar o
balde" e fazer outra coisa. Uma pesquisa da Pactive Consultoria apontou
que 32% dos entrevistados já pensaram em largar tudo e começar uma nova
carreira algumas vezes, e 26% muitas vezes. Além disso, 65% deles gostariam de
fazer algo mais ligado à sua personalidade.
Veja 6 dicas para mudar de carreira
1 - Descubra se você realmente quer mudar de carreira ou
se está cansaço das atividades do dia a dia, da postura do chefe ou decisões da
empresa
2 - Estude o mercado, faça cursos ou especializações
na nova área de atuação
3 - Procure profissionais que trabalham no novo ramo e
utilize o networking
4 - Faça um planejamento financeiro para encarar períodos de 'vacas magras'
5 - Aceitar cargos inferiores pode ser uma boa forma
de iniciar a nova carreira
6 - Caso a mudança não dê certo, não tenha medo de
voltar para a antiga área; se possível atue nas duas até conseguir se firmar na
nova
Há cerca de três anos e meio, elas se conheceram em
uma rede de hotéis e, em seguida, mudaram para a agência de viagens de turismo
corporativo. "Nesse meio tempo, o namoro com eventos sociais
começou", conta Larissa.
Com o mercado de eventos em constate crescimento, elas
começaram a estudar estratégias para aproveitar o momento. "Estudamos o
mercado, fizemos cursos e quando nos sentimos preparadas a empresa
nasceu", conta Juliana.
Atualmente, com escritório próprio e dedicação exclusiva
aos casamentos, elas confessam que trabalham mais do que antes e não atingiram
a renda que tinham. "Mas, a satisfação de realizar nosso sonho e trabalhar
com o que amamos é a nossa maior recompensa", diz Larissa. Para o futuro,
o plano é criar um ateliê em que a noiva saia com o casamento pronto e ainda
abrir uma filial em Salvador.
Primeiros passos
Segundo Angelo Meniconi, diretor de transição de
carreira da Lee Hecht Harrison | DBM, os profissionais devem fazer uma profunda
reflexão antes de decidir quais serão os novos rumos de sua carreira. "É
preciso pensar nas principais competências, naquilo que me desafia ou mesmo
imaginar como seria essa nova carreira. Se a pessoa simplesmente quiser mudar
de carreira por algumas insatisfações, a probabilidade de não dar certo é
grande, pois ele pode encontrar exatamente as mesmas coisas em outra atividade."
Cansaço das atividades do dia a dia, da postura do
chefe ou das decisões da empresa não devem ser encarados como motivos
principais para a mudança. "Normalmente quando o problema é a nossa
carreira, a infelicidade é muito maior. Existem sinais que indicam que a pessoa
não suporta mais fazer o que está fazendo, independentemente do chefe ou da
empresa", afirma Sergio Gomes, partner consulting da Havik.
Segundo ele, férias e variar as tarefas do dia podem
ajudar a reduzir a sensação de insatisfação. Já sobre o chefe, ele indica que o
profissional pense se estaria feliz fazendo o mesmo trabalho tendo outro
superior. Se a resposta for positiva, o problema está nessa relação e não na
atividade.
saiba mais
Maioria já pensou em largar tudo e mudar de carreira,
diz pesquisa
Após descobrir a real motivação para a mudança, o
profissional precisa analisar seu perfil e qualificações para planejar a
transição. Retomar os estudos e se especializar são os primeiros passos para
alcançar o objetivo. Estudar o mercado e analisar as possibilidades de
encontrar uma nova colocação ou quais são as reais chances de abrir seu próprio
negócio são as medidas seguintes. "Coaching e conversas com pessoas que já
atuam na nova área são boas formas de se preparar para a mudança",
ressalta Gomes.
Segundo Gomes, para se inserir no mercado, o
profissional deve buscar contatos na nova área e utilizar o networking.
"Normalmente é preciso encontrar alguém que compre seu sonho, pois ele não
tem experiência". Outra opção seria começar em um cargo inferior comparado
à profissão anterior para buscar posições melhores quando tiver mais
experiência na área. "Penso que o mais importante é você acreditar quer
pode ser bem sucedido nesta nova função e vender a ideia para outra
pessoa", completa Gomes.
Cuidados financeiros
De acordo com os especialistas, como a transição pode
demorar mais tempo do que o esperado, os profissionais devem se preparar
financeiramente para encarar o período de ‘vacas magras’. "Esse período
pode se tornar mais longo comparado ao tempo que se leva para encontrar um novo
emprego, portanto, é preciso ter algum fôlego financeiro", alerta
Meniconi.
Ao analisar o mercado, o profissional terá uma ideia
de quanto tempo vai demorar para conseguir uma boa colocação ou alcançar seu
rendimento anterior, e assim poderá fazer uma reserva para esse período.
"Conheço várias pessoas que encontraram suas profissões, porém não tinham
se preparado e tiveram que largar o sonho", afirma Gomes.
Três profissões
Manoela Rodrigues, de 46 anos, acumula três
profissões: jornalista, enfermeira e professora. Ela se formou em jornalismo,
onde trabalhou por cerca de 14 anos até trocar a área pela enfermagem e
docência.
Ela fez curso técnico de enfermagem para cuidar da avó
e da tia que precisavam de cuidados médicos. Como todas as faculdades na área
eram de período integral, Manoela teve que partir para a sua segunda opção
quando começou o curso superior. "A partir do segundo ano, eu estava na
faculdade de jornalismo, estagiava em um jornal e ainda trabalhava meio período
no hospital", conta.
Antes de se formar ela foi contratada pelo jornal e
acabou abandonando a enfermagem. Com a experiência na área, ela cobria assuntos
de saúde. Mas, o namoro com a enfermagem permaneceu e após o término da
faculdade, em 1990, ela voltou para o hospital, onde trabalhou por mais 6 anos.
"Acabei saindo, mas ainda fazia tarefas de jornalismo para o hospital,
como assessoria de imprensa."
Entre 1997 e 2006, Manoela trabalhou em assessorias de
imprensa e jornais. Mas, quando ela fez 40 anos, seu marido deu a ideia para
que ela fizesse uma nova faculdade. "Ele dizia que eu estava chegando em
casa chata e desgastada. Descobri que eu adorava escrever, mas não estava mais
gostando de ser jornalista."
Após a faculdade de enfermagem, ela engatou uma
pós-graduação em docência e foi convidada para dar aulas em uma faculdade do
interior de São Paulo. Atualmente, ela tem uma vida bem diferente da época de
jornalista, com férias, finais de semana e feriados em casa e salário que ela
considera 'mais interessante' do que o da antiga profissão.
Manoela é responsável pela orientação dos alunos
durante o trabalho de conclusão de curso e comemora a escolha da nova
profissão. "Hoje cumpro meu papel ajudando a formar profissionais
melhores, mais humanos e que se comuniquem mais", completa.
Paixão pelo trabalho
"Deveríamos pensar primeiro em que somos
apaixonados em fazer, depois no que somos muito bons e apenas por último no que
dá dinheiro. Normalmente não é o que acontece, e por este motivo várias pessoas
se tornam infelizes", afirma Gomes. Segundo o executivo, os profissionais
não devem pensar se a nova função está ou não relacionada com o atual emprego.
"Realmente acredito que temos possibilidade de sermos muito melhores
fazendo algo que somos apaixonados."
Caso a mudança não tenha dado os resultados esperados,
Meniconi indica a retomada da carreira antiga do ponto onde parou. O
profissional também pode tentar conciliar a nova ocupação com a antiga. "O
importante é monitorar isso de perto e perceber em pouco tempo se devo insistir
na mudança ou voltar atrás."
FONTE: http://g1.globo.com